A bendita poltrona GVoar nem sempre é uma experiência agradável.
Diz-se que o avião é o meio de transporte mais seguro que existe.
Mas, só aquelas recomendações no início de todo vôo, é de deixar qualquer um preocupado. Máscaras para despressurização da cabine, assentos que viram bóia, saídas de emergência!
Isso sem falar na comida! Tudo vem em miniatura, sem cor e sem gosto.
Não bastasse tudo isso, ainda temos de agüentar o “mega conforto” das poltronas.
Claro que quando digo isso, me refiro às poltronas da classe econômica. Porque, as da primeira classe são praticamente suítes de hotéis 5 estrelas. O passageiro só tem de apertar um botão e sua poltrona vira uma bela cama com uma massagista tailandesa exclusiva. Ou, uma jacuzzi com água a 40°C, sais aromáticos e um CD de mantra com canções gravadas pelos próprios monges tibetanos. Ou, uma cadeira na primeira fila de um show do Frank Sinatra. Frank Sinatra?
Pois é, o próprio. Isso é pra que vejamos como a primeira classe é poderosa!
Já os súditos da terceira classe, ou como rege o eufemismo, classe econômica, nos apertamos em poltronas pequenas, que reclinam meio centímetro. E quando reclinam né?
Os comissários de bordo que atendem a “classe econômica” receberam sua educação nas escolas mais conceituadas da Suíça. É uma vontaaade de ajudar, que eu vou te falar viu!
O pior de tudo ainda está por vir. Os vizinhos de assento.
Confesso que a primeira coisa que faço quando entro num avião é buscar meu assento e torcer pra ter uma boa companhia para o trajeto.
Boa companhia não se traduz em mulher bonita. Não necessariamente. Se for, que mal tem?
Mas pelo menos, uma pessoa simpática, que não encha o seu saco, ou que não durma no seu ombro em 95% da viagem.
Como sou muito sortudo, quase nunca tenho vizinhos assim.
Uma vez, num vôo de mais ou menos 10 horas, fui designado para sentar-me na última fileira de poltronas, ou seja, aquelas que não reclinam nem meio-centímetro.
Para piorar as coisas, a minha poltrona era a G! No meio de mais duas pessoas.
Não faltou torcida, mas sobrou azar.
Uma senhora, muito educada por sinal, quase me chutou quando percebeu que estava no lugar dela.
Não que eu estivesse tentando ser mau-caráter, foi desatenção mesmo.
Pois aquela velha, quer dizer, senhora, me fuzilava com o olhar, todas as vezes que eu precisava ir ao banheiro. Vou fazer o que, se a única coisa que servem no avião e que tem um gosto bom é água? E olha que geralmente, água não tem gosto.
Quando pensei que o outro assento estaria vazio, sentou-se um rapaz, muito delicado, que ao colocar sua mala no bagageiro, só faltou usar um pé de cabra.
Coitado dele. Acho que por causa do ar-condicionado, ele havia contraído um resfriado. Assoava o nariz de 3 em 3 minutos. Nos primeiros 10 minutos, achei que passaria. Mas depois, quase passei uma fita adesiva no nariz dele pra ver se parava pelo menos um pouco.
Achando que tudo estava perdido, afundado em meu banco confortável, rodeado por seres estranhos, inimigos, decidi dormir.
E não é que a tiazinha dormiu também?
No meu ombro!
E por mais que eu me sacudisse, ela arranjava um jeito de se acomodar. Acho que nunca sonhou tanto como naquele dia.
A aeromoça passou por mim e me perguntou se eu precisava de alguma coisa.
- Sim, você pode me trazer uma arma? eu perguntei a ela.
Ela não riu e ainda fez menção de chamar o comandante do avião. Bancando o engraçadinho, ainda continuei.
- Moça, estava só brincando. Não precisa ser uma arma não, pode ser só um pára-quedas.
Ela virou as costas e foi embora.
Quando chegamos ao nosso destino final, meu amigo com resfriado decidiu conversar comigo sobre seu doutorado. Ele fazia alguma coisa na área de zootecnia. Aí, bateu o medo.
Será que a gripe dele era suína ou aviária?
Foi então que a tiazinha acordou. Parecia a bela adormecida, abrindo os olhos e sorrindo para o seu príncipe encantado. A minha vontade era de ser a bruxa má, pra dar-lhe a maçã envenenada.
Nem desculpas ela pediu. Nem um, “foi sem querer”.
Tirou o cinto, levantou-se, pegou a mala no bagageiro e foi embora.
E eu reclamando das encoxadas que levava no trem, nos horários de rush.
É como já diz o bom e velho ditado, “pobre só se ferra mesmo”.